AJUSTES NO MERCADO DE IMÓVEIS



Os preços dos imóveis subiram, em média, mais de 90% nos últimos três anos e, segundo reportagem do Estado (26/12), parecem, agora, tender para a estabilização. Isso ajudaria a evitar uma escassez de recursos das cadernetas de poupança, que, junto com os do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), abastecem as carteiras de financiamentos à moradia.
O mercado imobiliário viveu um período de euforia, em 2009 e 2010, que provocou a alta dos preços. Em 2011, o ritmo das vendas diminuiu. Na comparação entre os primeiros dez meses de 2010 e 2011, segundo levantamento do sindicato da habitação (Secovi), houve queda de 20,8% do número total de unidades comercializadas. Em outubro último, o recuo foi ainda mais forte (-37,7% em relação ao mesmo mês de 2010).
Para 2012, os especialistas esperam uma maior estabilização dos preços dos imóveis - e esta é uma boa notícia para os compradores em potencial.
Em 2011, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP), o número de lançamentos de imóveis, em São Paulo, superou o de 2010. Boa parte desses imóveis será colocada à venda em 2012. Havendo maior oferta de moradias, será mais fácil a estabilização de preços, observou a economista Ana Maria Castelo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O gestor de investimentos Fábio Colombo considera que os preços dos imóveis são "altíssimos" e a professora Denise Vasconcellos, da Universidade Mackenzie, sugere que "estamos próximos do teto". Para o presidente do conselho de corretores (Creci-SP), José Augusto Viana, os sinais de queda das vendas confirmam que os preços são altos - e estes terão de "parar de subir ou novos negócios não serão feitos".
A experiência histórica mostra que, desde os tempos do Banco Nacional da Habitação (BNH), crédito farto é fator decisivo para a manutenção de preços elevados no mercado de imóveis. Entre 2010 e 2011, a oferta de crédito imobiliário aumentou de cerca de R$ 90 bilhões para R$ 117 bilhões, calcula o Sinduscon. Os empréstimos asseguraram o ritmo da atividade imobiliária e deverão atingir R$ 152 bilhões, em 2012, dos quais R$ 107 bilhões com recursos das cadernetas de poupança e R$ 45 bilhões, do FGTS.
Entre janeiro e novembro, segundo o jornal Valor, os financiamentos concedidos com recursos das cadernetas de poupança atingiam R$ 71,6 bilhões, com aumento de desembolsos de 43% em relação aos R$ 50 bilhões do mesmo período de 2010. A maioria dos bancos privados prevê que o ritmo de crescimento do crédito ainda será de 30% a 40%, em 2012, mas alguns projetam esse aumento em 25% e a Caixa Econômica Federal (CEF), em apenas 15%, somando os empréstimos com recursos das cadernetas e do FGTS.
Mas o crescimento do crédito imobiliário - cujo ritmo oscilou entre 50% e 70% ao ano, na segunda metade da década passada, com a exceção de 2009 - já não é tão acentuado e as perspectivas, agora, são de um avanço mais lento em 2012.
Sem tanta pressão dos tomadores, os recursos da caderneta de poupança deverão atender à demanda por mais dois anos, na pior das hipóteses, ao contrário das previsões mais pessimistas.
Essa hipótese é fortalecida pela queda da taxa Selic, que torna a remuneração das cadernetas (de 7,45% ao ano, em 2011, não sujeita ao IR na fonte) atraente para os poupadores, nota o diretor de crédito imobiliário do Banco Santander, Antonio Barbosa. Além disso, o esfriamento da demanda por imóveis destinados à classe média, apontado pelos levantamentos do Secovi, deverá provocar um crescimento mais lento da procura de recursos pelas construtoras.
Recursos fartos depositados na poupança permitirão aos mutuários tomar empréstimos a custo reduzido. Enquanto isso, outras fontes mais recentes - certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e letras de crédito imobiliário (LCIs), além dos fundos imobiliários - serão mais bem testadas nas operações de crédito à moradia, de forma a oferecer resposta rápida, no futuro, quando os recursos das cadernetas escassearem.

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